Capítulo 105

17 anos depois...

- Mãaaaae! Cadê a minha meia? – Um grito ecoou pela casa.

Essa era a minha vida de mãe, desde quando meus filhos começaram a entrar na pré adolescência e Luan me pediu para parar de trabalhar. Confesso, que não estava mesmo conseguindo conciliar o tanto de coisas que eu tinha que fazer na central, junto com meus filhos, que brigavam demais.

Podia parecer coisa de gente rica, que não consegue dar conta de trabalhar fora e cuidar da casa. Como algumas mães que não tem escolha em trabalhar fora, conseguem?

Digamos, que ser mãe de primeira viagem e vir dois filhos de uma vez, ter uma família inteira que mima seus filhos, inclusive o pai deles, não é nada fácil.

Quando eles entraram para a adolescência, Luan já reclamava do efeito que os mimos dele fizeram e eu falava, que ele não reclamasse. Não que meus filhos fossem super mimados, mas as vezes, não “conseguiam” fazer nada sozinhos, mesmo depois de grandes, o que rendia muitos gritos da minha parte.

Meu casamento com o Luan era o mesmo, depois de anos. Ainda continuávamos como namorados, aliás, é isso mesmo sinto, quando estamos sozinhos.

A aparência então, continua a mesma, eu sempre tive certeza disso e ele também, afirma que eu continuo igual, mesmo eu não acreditando.

Ele andava um pouco irritado em alguns dias, mas como qualquer ser humano. Sempre tivemos briguinhas também, ou brigas sérias, normal de um casal.

Já saiu muito na mídia que tínhamos nos separado por motivos bobos, que nem fazíamos questão de olhar. E por incrível que pareça, em todos esses anos, Luan não deixava de me avisar para onde ia, o que fazia, as vezes até um pouco exagerado.

Quando seus amigos os chamavam para algo, ele me ligava para contar, mas quando era para uma boate, um lugar mais público, ele rejeitava, mesmo eu dizendo que não tinha problema. Eu amava aquilo, achava lindo da parte dele.

Nunca deixamos de sair também, sempre muito ligados e próximos, nunca deixamos de nos curtir, por pouco tempo que seja.

Depois dos filhos crescidos, é bem difícil, mas nada é impossível. Sempre “fugimos” e aproveitamos o momento.

Acho que por isso, ele não sente falta de freqüentar suas baladas e festinhas, de quando mais jovem.

Subi as escadas, e Rafael ainda me gritava, me fazendo rolar os olhos.

- Rafael, meu filho... – Entrei em seu quarto e fui direto na roupa passada, que Maria havia deixado em cima da cama. – Procura, por favor? – Lhe entreguei um par de meias brancas.

- Ah, mãe! Te amo! – Ele me abraçou. Ri. – Tô atrasado pro jogo! – Ele vestia suas meias e tênis rápido.

- Vê se não volta muito tarde, seu pai vem pro jantar.

- Tá bom!

- O Miguel vai?

- Não...Está na escola fazendo um trabalho. – Ele revirou os olhos.

- E o senhor já fez?

- A Mari faz pra mim! – Ele riu.

A Mariane, era apaixonada por ele, uma menina de ouro, que sonhava em namorar Rafael, que só usava a garota, por mais que eu falasse.

- Olha lá, Rafael...

- Relaxa, Sara! – Ele se levantou e beijou meu rosto.

Estreitei os olhos e ele riu.

- Miguel está sozinho na escola? – Desci as escadas junto com ele.

- Está com a Isabel.

- Eles estão namorando ?

- Eu que sei, mãe? Pra mim o Miguel era gay. – Ele gargalhou.

- Olha o respeito, garoto. Só por que o menino gosta de estudar e quer ser alguém na vida?

- Nós já vamos ser alguém na vida, mamãe. Nosso pai é o Luan Santana! – O olhei indignada.

- Fui!

- Rafael, volta aqui...

- Depois conversamos, mãe! Amo você! – Ele saiu gritando. Bufei.

Esse era o grande problema do meu filho Rafael, que desde que nasceu, parecia que eu previ, que iria me dar problema, pelo menos na adolescência.

Ele achava que a vida era um conto de fadas, porque sempre teve tudo que queria, porque os avós e seu pai, sempre o mimava. Mas Miguel também sempre foi mimado e isso não o afetou, para minha felicidade.

Era um menino bom, estudioso, que não gostava muito de sair com os amigos e nem fazer nada de errado. Era um anjo e nem parecia um adolescente.

Miguel chegou algumas horas depois, me deu um beijo carinhoso como sempre.

- Estudou muito, meu amor?

- Demais! – Ele sorriu.

Os dois tinham o sorriso lindo do pai, meus olhos, mas o nariz e o sorriso do pai.

Eram parecidos, mas não tão iguais como quando pequenos. Os cabelos também o fizeram ficar bem diferente.

Enquanto Rafael usava um cabelo tipo o Luan quando mais jovem, mais curto dos lados e arrepiados, Miguel tinha seu cabelo lisinho mais certinho, o que não o fazia perder o encanto, que assim como seu irmão, tinha fila de meninas querendo ser minha nora. Mas só Isabel, importava para ele. Um anjo de garota também, estudiosa como ele.

As vezes a casa era calma, mas quando Rafael queria, virava um pé de guerra entre os dois. Tudo era motivo de implicância.

- Vai tomar seu banho, que já seu pai chega!

- Vou, mãe... – Ele foi em direção a escada, mas o chamei, antes de subir.

- Ah! Qualquer dia desses vou preparar um almoço pra você trazer a Isabel aqui e apresentá-la para o seu pai, que ainda não a conhece. – Sorri.

- Mãe! – Ele riu envergonhado.

- Vai lá, meu bebê! – Diferente do irmão, ele não reclamava que eu o chamasse daquele jeito, só ficava tímido perto das pessoas, então eu não o chamava assim perto de ninguém.

Era um segredo meu e dele.

Luan chegou a noite e Rafael um pouco depois e eu quis lhe matar, por mais uma vez não cumprir o horário pedido.

A sorte que Luan demorou quase uma eternidade no banho e quando saiu, já estávamos na mesa o esperando. Seu humor não era um dos melhores naquele dia.

Ele me deu um beijo e beijou a testa dos meninos, antes de se sentar.

- Amanhã o show é aqui perto. Vamos todos?

- Claro, amor! Estou com saudades de assistir a um show mesmo.

- Amanhã nem rola. Eu marquei um negocio com os meninos. – Rafael disse.

- Desmarca. Você tem outros dias. – Luan respondeu.

- Também tenho outros dias para ir no seu show, pai.

- Rafael! Chega, tá? Vamos todos amanhã, ouviu? – Eu interferi.

- Eu não tenho nem mais escolhas? Me tratam feito criança.

- Deve ser porque é isso que está merecendo ultimamente. Me arrependo de ter te dado tudo que você quis.

- Ah, pai! Esse papo de mimado de novo, não!

- Realmente eu não sei aonde eu errei com você, porque seu irmão é completamente diferente.

- Deus me livre eu ser igual o Miguel, só quer saber de estudo, correr atrás de uma garota que não tá nem ai pra ele...Parecendo um gay.

- Olha aqui, garoto. – Luan apontou o dedo para ele e eu suspirei. Sabia onde isso daria. – Você tenha mais respeito comigo e com seu irmão. Você ainda depende de mim para tudo!

Vai pro seu quarto, acabe de comer lá e arrume suas malas que amanhã iremos todos.

- Eu não vou amanhã, pai. Eu já falei!

- Ah...você vai!

- Por que eu iria? – Ele cruzou os braços.

- Porque eu tô mandando! – Luan gritou assustando a todos. – Não me faça perder o pouco de paciência que ainda me resta, com você!