Capítulo 109

- Filho...-Suspirei e me sentei do seu lado. – Me desculpa por tudo? Eu sei que não estou sendo um pai como no começo, sei que não dou a atenção que você e seu irmão merecem, muito menos sou tão presente na vida de vocês. Eu sei que estava sendo duro com você, mas eu só quero que saiba que eu te amo muito e que tudo que eu falo é para o seu bem...Se eu brigo, discuto, enfim. Eu sei o melhor pra você, mesmo não parecendo. Eu te fiz, te vi nascer, troquei suas fradas, te ajudei a comer, a dar os primeiros passos, te ensinei a me chamar de pai. – Sorri. – Hoje eu tomei uma decisão, na verdade, eu tomei essa decisão, assim que soube que tinha acontecido isso com você! – Encarei o chão e voltei a olhá-lo. – Eu vou dar um tempo nos shows por pelo menos um mês e depois quando voltar, vai ser bem menos do que é. Eu já passei da hora de diminuir esses shows, já passei da hora de me dedicar mais a vocês e confesso meu erro. Eu vou ser mais presente, sei que ainda o tempo não está perdido. Mesmo vocês já quase indo para faculdade, ainda vamos recuperar tudo que você acha que perdemos. Me perdoa?

- Pai, primeiro eu que quero pedir desculpas ao senhor, eu lhe falei coisas horríveis, sendo que não é verdade e mesmo se fosse, como você mesmo disse, você é meu pai, eu não podia ter feito isso. Também confesso que errei. Não leve nada a sério que eu falei e...Tenho certeza que ouviu o que eu disse no dia que eles te ligaram e te peço desculpas por isso também, eu não tinha o direito! Me desculpa por tudo ? Eu juro que vou tentar ser melhor, ser menos mimado, ser...Uma pessoa melhor.

- Você me desculpa primeiro? – Sorri.

- Claro que sim! – Ele também retribuiu.

- Eu te desculpo, filho! – Lhe abracei forte. – Não que seja uma pessoa ruim, eu só quero que melhore, que veja a vida do jeito que ela é, complicada. Não que não deva se divertir, mas sim ser mais maduro e responsável e não porque pode ter as coisas quer, que pode ser malandro.

- Eu vou melhorar, juro! Eu vou ter meu próprio dinheiro, apesar do que eu dava a entender, eu não queria que me sustentasse pra sempre.

- Isso tudo aqui é seu e do seu irmão. Eu vou te ajudar o quanto for preciso e até mesmo se não for. Não é um favor, é uma obrigação, é porque eu quero!

- Eu sei que o senhor faz tudo de coração. Agora eu entendo que é tudo pro meu bem...

- Eu amo você, tá?

- Eu também amo o senhor, pai! – Ele voltou a me abraçar forte.

Sara chegou bem nessa hora e quando nos viramos para lhe olhar, ela sorria satisfeita.

- Está melhor, bebê?

- Estou ótimo, mãe. Pronto pra outra!

- Não fala isso nem brincando! – Rafael gargalhou. - Fizeram as pazes...Espero que não briguem mais.

- Não vamos, amor! – Sorri e lhe puxei para que se sentasse no meu colo, enquanto Rafael comia sua sopa.

- Mano...Visita pra você! – Miguel, chegou gritando.

Ele entrou no quarto com a Mariane, que sorria tímida e trazia algo em suas mãos.

- Fiquei sabendo do que aconteceu, Rafa. Fiquei preocupada! – Ela disse já morrendo de vergonha. – Oi, tia Sara, tio Luan. – Nós sorrimos e também a cumprimentamos.

- Isso ai é pra mim? – Rafael perguntou.

- É sim! – Ela lhe deu uma caixa de bombons, o que ele mais amava.

- Nossa! Adorei! Minha mãe agora só me dá sopa! – Ele falou, nos fazendo rir.

- Tem problema, tia Sara? – Ela olhou para Sara preocupada por estar fazendo alguma coisa errada e eu ri. Tomei um cutucão na barriga.

- Claro que não, querida! Só porque é você! – Ela disse, deixando a menina ainda mais envergonhada.

- Então trás mais coisas pra eu comer, Mari. – Rafael riu.

- Não abusa também! – Sara respondeu.

A campainha tocou e provavelmente Maria atendeu, logo escutamos passos subindo as escadas.

- E ai, moleque? Tá bem? – Rober perguntou a Rafael, que assentiu enquanto comia seu chocolate. – Claro que está, não é? – Ele riu. – É...A polícia pegou os homens.

- Jura?

- Juro! Eles já foram presos e amanhã Rafael vai ter que ir depor e depois vai ter o julgamento...Ah! Seu dinheiro foi todo devolvido e já voltou pra sua conta.

- Nem lembrava mais de dinheiro! Aliás, eu tô odiando dinheiro agora!

- Luan, se acalma!

- Seqüestraram meu filho por causa dele. Sabia que um dia tanto dinheiro, não seria boa coisa!

- Não estressa, tá ? O Rafa tá ótimo!

- E agora vai ir e vir com um motorista da escola, os dois. – Olhei para Miguel. – Aliás, pra qualquer lugar vão com o motorista, que vai ficar esperando vocês.

- Sério, pai? – Rafael fez careta.

- Muito sério!

- Mas motorista vai adiantar?

- Você já reparou o nosso motorista? Dá dois de mim! – Ri, fazendo todos rirem também.

Tinha algum tempo que eu não fazia algum tipo de brincadeira em casa.

O Luan brincalhão, animado e alegre, era só fora dali, com os amigos, que diziam que o tempo passava e meu humor nunca ia embora, mas em casa, era diferente.

Confesso que eu estava me tornando um chato e todo mal, vem para o bem.

Me fez abrir os olhos.

- Ainda mais armado! – Miguel completou.

- Armado ? – Sara me olhou assustada.

- Ué! – Dei de ombros. – É o jeito! – Suspirei.

Escutamos a campainha tocar de novo e logo depois um monte de adolescentes no quarto do Rafael. Seria bom para animá-lo.

- Vou preparar um lanche para vocês! – Sara se levantou do meu colo. – Vem me ajudar, amor! Se comportem! – Ela riu.

- Pode deixar, tia! – Pedro, um amigo de infância de Rafael, dizia.

Ele morava ali mesmo no condomínio.

Fui andando do lado de Sara e me virei para trás, os meninos olhavam para bunda dela e me fizeram rir.

- Olha lá, em! – Falei e ri com eles, que ficaram sem jeito.

- Tomem vergonha e parem de olhar pra minha mãe! – Miguel, sempre ciumento com a mãe, dizia. Rafael também brigava com eles rindo.

Preparamos um lanche para eles e deixamos que ficassem conversando sozinhos.

Fomos para o nosso quarto e tomamos um banho juntos, tranqüilizante.

- Que aliviada que eu tô...

- E eu, amor! – Sorri.

Ela colocou seus braços em torno do meu pescoço e juntou nossos lábios.

Começamos um beijo doce e lento, debaixo daquela água morna. Estava muito bom.

Nos amamos ali dentro, como há um tempo não acontecia.