Capítulo 73

*

Estava esperando Luan voltar com nossa garrafa com suco, quando a chuva começou a cair.

- Ah não ! – Eu quase gritei e olhei pro céu quase chorando. Não era possível.

Escutei um barulho estranho e olhei para onde vinha.

As plantas se mexiam e parecia que algo se aproximava ainda mais de mim, me desesperei mais ainda e o barulho só aumentou.

Saí correndo no impulso, quando percebi que algo corria atrás de mim, corri como nunca corri na vida e finalmente quando eu crio coragem para olhar para trás, era um simples miquinho que me “perseguia”. Bufei alto e ele parecia rir de mim.

Só então olhei em volta  e vi que não estava mais no mesmo local, eu não estava mais com o Luan. As minhas pegadas tinham sido apagadas pela chuva, que agora caia intensamente.

Comecei a chorar, chorei de verdade e me senti uma criança que tinha se perdido de seus pais.

Andei mais um pouco e vi uma espécie de cabana , que tinha naquele lugar, então entrei. Pelo menos da chuva eu estava protegida. Eu não sabia o que fazer.

Olhei em volta e aquele lugar dava medo, tinha algumas coisas de caça ali, e tudo cheio de teias de aranha. Estava com medo do lugar desabar em cima de mim, também.

Escutei um trovão alto e a porta bateu com força.

Fui até ela e coloquei a mão na maçaneta e girei, de olhos fechados. Tinha trancado sozinha, meu choro só aumentou. Pedi por pensamento para que aquilo fosse só um pesadelo e que eu acordasse logo, mas de nada adiantava, não era um pesadelo.

Comecei a andar por ali e vi também que só tinha uma janela minúscula aberta, não passava nem minha coxa ali. Pelo menos entrava ar. Eu me consolava por pensamento, arrumando sempre alguma coisa boa pra pensar.

Percebi que chutei alguma coisa no chão e me abaixei para ver o que era. Peguei o vidro preto e cheirei, por intuição. Aquilo me fez tossir, tossir muito.

Me sentei no chão e não parava de tossir, até que minha vista embaçou.

Tudo rodou e eu cai dura naquele chão. E eu pensando que nada mais podia piorar.

* 

Consegui ficar de baixo de uma árvore enorme, até a chuva parar. Ela era tão grande, que quase não me molhava e depois que isso aconteceu, saí à procura de Sara, gritando seu nome.

Quando olhei em volta e vi que estava bem no alto, tirei o celular da mochila e estava com sinal. Primeiro liguei para o celular dela, que dava fora de área, com certeza estava em um ponto sem sinal,  já que poucos pontos pegavam ali.

Então liguei desesperado para o instrutor, que se assustou também e logo para Roberval, mas pedi que não falasse nada para ninguém se assustar.

- Pelo amor de Deus, cara. Só não deixa a imprensa saber disso, a mãe da Sara não sabe e é bem capaz dela dá um infarto! – Eu disse quando o instrutor do parque me ligou de volta, falando que o corpo de bombeiros já estava a caminho. 

- Pode deixar. Sei que também tem a sua imagem e não seria legal.

- Isso ! – Respirei aliviado.

Troquei sms com Roberval, que dizia que estava indo para lá com Guto e eu o agradeci. Só contou para ele.

Me sentei no chão, para esperar algum bombeiro, já que eu tinha dito por mensagem onde eu estava e depois de uma hora ouvi vozes e gritei. Logo eles me acharam.

- A onde vocês estavam ? – Eles começaram as perguntas e eu fui respondendo.

Até que chegamos exatamente onde estávamos. – Cada um segue para um lado e quem a encontrar, fale no rádio. – O chefe deu a ordem e os outros concordaram, logo começaram a andar.

- Eu vou com o senhor...

- Acho melhor você esperar fora da floresta, peço alguém pra te levar.

- Não! Eu quero ir procurá-la.

- Tudo bem ! – Ele disse e começou a andar, o acompanhei.

Depois de mais de duas horas rodando, ai sim eu poderia dizer que já estava mais que desesperado. Até que eles avistaram uma cabana abandonada, mas estava fechada e nós nos aproximamos.

- A porta ta emperrada, vamos arrombar. – Depois que disse isso, conseguiram colocar a porta no chão e eu corri para entrar.

Fui o primeiro a entrar e a avistei caída no chão. Me ajoelhei no seu lado e a virei, já que estava de bruços.

- Não toca nela ! – Ouvi, mas não me importei.

Ela estava desmaiada, mas eu percebi uma coisa a mais, que logo foi confirmada pelos bombeiros. – Ela está sem pulsação ! – Eles se olharam apavorados e eu quase desmaiei.

- Sem o que ? – Eu repeti, com a respiração acelerada. – Isso quer dizer que o coração dela ta parando ? – Eu não queria acreditar nem nas minhas palavras.

- Ou que...

- Que ? – Os olhei e eles se olhavam.

- Ou que ele já parou...E ela morreu !